quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Lubrificante musical


Estava eu no computador, lendo algo qualquer, com a viola na mão. No canto do meu quarto onde passava a maior parte do tempo, o velho sentou.
Dos amplificadores saía ruídos e vozes, tons e tons uns sobre os outros, expandindo-se como bolhas de sabão. Máquinas, pássaros, teclados e algumas vozes percorriam a sala.
Sob o mais alto grau do pedantismo dos meus 13 anos pensei: “quero vê-lo se gabar agora...”
Mão no queixo como de quem pensava, o velho. Mas não estava, só ouvia, curtindo, fluindo
Eu, balançava a cabeça como quem já conhecia o ritmo e familiarizado com a complexidade do som.
O som musicado da máquina, puro como o ar da indústria. O barulho do óleo fluindo, das engrenagens e lubrificando os tímpanos e contaminando o cérebro.
Muita informação sonora, quase insuportável. Perdi-me nas primeiras passagens e não sabia onde aqueles graves iriam parar. Seguiram com os agudos e formaram um lindo casal. É claro, como se eu já soubesse disso.
Tentei imitar o ruídos com a boca e levei com as mãos os acordes do violão como quem quer achar o caminho certo numa trilha, mas não deu...
De pé, botou a mão no meu ombro, grave sobre o balanço dos pelos do bigode, disse: “KRAFTWORK”
Pensei: “filho da puta”