sábado, 28 de novembro de 2009

For those about to rock...

Desde que o AC/DC anunciou que estaria no Brasil, já fui me preparando para estar presente nesse espetáculo que muitos afirmam ser o melhor show de rock do mundo. Eu precisava ir para ver se é mesmo verdade!

Saindo com uma excursão partindo de São José do Rio Preto (depois de meses de economia e convencendo o chefe a me dispensar), parti com meus amigos Mateus e Manu rumo à São Paulo. Chegamos na cidade por volta das 10 da manhã, e o Morumbi já estava tomado por estranhas figuras cabeludas vestidas de preto, com chifrinhos Made in China piscando em suas cabeças. Como estava muito cedo, fomos dar uma volta pela galeria do rock, no centro. Depois de umas compras e de rever alguns amigos de Viçosa City (John e Ziza), retornamos para os arredores do estádio.

Uma chuva torrencial se despejou sobre os presentes, para a alegria dos vendedores de capas de chuva, que se encontravam aos montes no local concorrendo com os já citados chifrinhos piscantes. Tratamos de entrar no Morumbi, por volta das 18h, para escapar um pouco da molhadeira, já que estávamos na arquibancada coberta. Ouvia-se todos os sotaques pela platéia, reflexo do fato daquele ser um show único no Brasil. Além disso, via-se até três gerações da mesma família presentes para ver o show. Coisas de rock n roll.

O palco era gigantesco, com muita iluminação e dois bonés infláveis gigantes com chifrinhos e um “A” no alto. Na sua frente, uma plataforma de 50 metros adentrava o publico, terminando em um pequeno palco secundário.

Eu estava na arquibancada azul, vista ótima para o palco

Depois de 2 horas de espera bebendo cerveja quente a 5 reais, o show de abertura começou: o veterano Nasi mandou uns clássicos próprios, do Stooges, Clash e Raul Seixas, com o Andreas Kisser na guitarra. Nunca fui fã do Nasi, então não reclamei quando o show de pouco mais de 20 minutos chegou ao fim.

O AC/DC pode adicionar mais um item ao seu currículo perfeito, graças ao seu show no Brasil: até São Pedro parou de trabalhar para ver os caras no palco. Momentos antes do show começar, a chuva forte que durava por muito tempo parou, para alivio dos presentes.

Com cinto minutos de atraso, às 21h35, as luzes do Morumbi se apagaram, transformando o estádio em um mar de chifrinhos vermelhos piscando. Os telões de alta definição se ligaram, apresentando uma animação muito divertida da banda:

Um trem desgovernado, guiado por um Angus Young diabólico, se divertindo ao alimentar a caldeira deliberadamente apenas para ver os medidores de pressão irem ao vermelho (lembrei de Back to the Future III), seguia a todo vapor pelos trilhos, para desespero dos passageiros presentes. Duas gostosas tentaram sem sucesso impedir o inevitável: a colisão da locomotiva contra o fim da linha.

Quando isso acontece, o palco explode em chamas. Uma locomotiva real de 6 toneladas adentra o palco, em meio à fumaça e barulho de ferro retorcido.

Rock n Roll Train!!

Mas não é por ela que as 65 mil pessoas presentes vão ao delírio: algo ainda mais imponente e poderoso que a locomotiva gigante, um senhor calvo magrelo de 1,60m, entra com tudo executando os primeiros acordes de Rock n Roll Train. Com seu clássico modelito colegial, trajando uma gravata verde e amarela em nossa homenagem, essa figura que é ao mesmo tempo o mascote da banda e um dos maiores guitarristas da historia agitou o mar de chifrinhos piscantes, formando tsunamis a cada Power chord desferido.

Mr Young

Foi então que outra figura lendária do rock entrou no palco: Brian Johnson, com seu chapéu e seu timbre de voz inconfundíveis, iniciou o show tão esperado, com o apoio de Malcolm Young (verdadeiro cérebro por trás do AC/DC) na guitarra base, Cliff Williams no baixo e Phil Rudd na bateria.

Malcolm e a locomotiva

Brian Johnson

"Não falamos bem 'brasileiro', mas falamos rock n' roll", foi a frase de Brian ao fim da primeira musica. As próximas duas horas de show confirmariam o que foi dito.

Uma coisa que me chamou a atenção foi a organização da banda no palco. Enquanto Angus e Brian ficavam correndo pra todo lado garantindo o delírio dos presentes, os outros três ficavam ao fundo do palco, se certificando que os dois teriam a estrutura necessária para fazer aquele show acontecer. O trio só se separava na hora dos backing vocals, quando Malcolm e Cliff davam alguns passos à frente para chegar até os microfones. Com o fim da parte cantada, eles voltavam às suas posições ao fundo. Uma coreografia que lembra um time de futebol em campo.

O set list misturava os clássicos que todos estavam esperando com músicas do novo álbum Black Ice, que foram muito bem recebidas. A cada nova música, uma surpresa para os presentes.

"Big Jack", a segunda das quatro músicas de "Black Ice" executadas, foi muito bem recebida e comprovou que os discos novos do AC/DC são trabalhados à perfeição – é por isso que a banda opta por hiatos de sete anos ou mais entre seus lançamentos recentes, em vez de se arriscar a soltar discos 'meia-boca' a cada dois anos (infelizmente, muitas boas bandas das antigas parecem ainda não ter aprendido esta lição...). "Dirty Deeds Done Dirt Cheap" (uma das melhores músicas da noite), "Shot Down in Flames", "Thunderstruck" (igualmente maravilhosa) e "Black Ice" arrebataram o público.

"Esta música é sobre uma vagabunda... ", anunciou Brian Johnson, entre risos e acordes distorcidos da guitarra de Angus. "Esta música se chama 'The Jack'", completou, para delírio da galera. Mostrando estar no espírito da música, uma das moças da platéia não teve dúvidas ao se ver no telão: levantou a blusa e exibiu o sutiã para todo o Morumbi apreciar (o mais próximo que chegamos de um peitinho na noite).

Foi então que um sino gigante gravado AC/DC desceu do teto até o palco, não deixando duvidas de qual seria a próxima musica. Mas o que ninguém esperava era que um senhor barrigudinho de mais de 60 anos iria dar uma corrida incrível por toda a extensão da plataforma em frente ao palco e com um pulo certeiro, iria se pendurar na corda do sino, ecoando as badalas que iniciam Hell’s Bells. Na minha opinião esse foi o ponto alto do show, pois mostrou de uma vez por todas por que o AC/DC lota estádios há tantos anos. Os caras têm amor pelo que fazem, e isso não dá pra fingir.


Depois dela, "Shoot to Thrill" manteve as gargantas aquecidas e abriu caminho para a animada "War Machine", último petardo da lista de "Black Ice" no set atual.

Fazendo jus ao seu caráter épico, o show entrou na reta final com uma sequência de clássicos inesquecíveis: "Dog Eat Dog", "You Shook Me All Night Long" (cantada em uníssono) e "T.N.T." (pesada e arrebatadora). Ao chamar "Whole Lotta Rosie", Brian Johnson brincou: "Trouxemos uma antiga namorada para o show de hoje..." – foi a senha para uma gigante e corpulenta Rosie inflável, de provocantes luvas, sutiã e cinta-liga vermelhas, tomar forma montada na locomotiva do Rock N' Roll Train que adornava o palco. Para o fecho perfeito, um clássico atemporal: "Let There Be Rock", ilustrada por um emocionante videoclipe com imagens dos mais de 35 anos de carreira da banda, e relembrando o saudoso Bon Scott.

Depois dessa musica, nosso amigo Angus solou durante 20 minutos, mostrando que ele é muito mais do que um mascote da banda. Avançando lentamente pela plataforma e chegando até o pequeno palco no meio do Morumbi, executou um solo frenético que levou todos ao delírio. Um elevador levantou para deixá-lo ainda mais visível a todos os presentes.

É claro que ninguém arredou o pé do estádio diante do falso adeus de Brian Johnson. Poucos minutos depois, um alçapão esfumaçado se abriu no meio do palco para mostrar Angus Young saindo direto da estrada do inferno: "Highway to Hell" abriu o bis com toda a autoridade possível. Lindo, mas também triste, pois todos sabiam que o show chegava ao fim, foi ver os canhões se posicionando ao som das notas de "For Those About to Rock". Execução perfeita, salva de tiros e muita ovação marcaram a despedida de Angus, Malcolm, Brian, Cliff e Phil. Acabou? Não exatamente: uma queima de fogos estonteante foi a cereja do bolo de um show que beirou a perfeição. Não foi à toa que até a chuva pagou tributo e ficou calada durante todo o restante da noite.

Com certeza não existem palavras para descrever com perfeição o que aconteceu no dia 27/11/09 no estádio do Morumbi. Apenas os presentes vão saber o que significou esse show, que foi a imagem de tudo o que o rock n roll representa: alegria e união de gerações em torno de uma paixão comum pela boa musica, que já provou não ser afetada pelo tempo.

LINE-UP

Brian Johnson - Vocal
Angus Young - Guitarra
Malcolm Young - Guitarra
Cliff Williams - Baixo
Phil Rudd - Bateria

SETLIST
Rock ‘n’ Roll Train
Hell Ain’t a Bad Place to Be
Back in Black
Big Jack
Dirty Deeds Done Dirt Cheap
Shot Down in Flames
Thunderstruck
Black Ice
The Jack
Hells Bells
Shoot to Thrill
War Machine
Dog Eat Dog
You Shook Me All Night Long
T.N.T.
Whole Lotta Rosie
Let There Be Rock

Bis:
Highway to Hell
For Those About to Rock (We Salute You)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

This Is It

O cinema de Colatina não é muito bom. A qualidade de imagem e som não são grande coisa, a tela não é das maiores, os filmes raramente estréiam na data correta e o preço do ingresso é caro (levando-se em conta a qualidade). Mas é o único cinema que temos por aqui, então eu tento prestigiá-lo sempre que posso. Alguns filmes devem ser vistos no cinema, pois foram feitos pra isso. E ontem assisti um dos maiores exemplos disso: This Is It.
Michael Jackson faria uma mega-turnê de 50 shows, como forma de despedida. Foram vendidos mais de 700 mil ingressos em menos de um dia. Os fãs estavam ansiosos. Até que ocorre o inesperado: o Rei do Pop morre. Mas, por sorte, os ensaios dessa turnê foram gravados, e o diretor Kenny Ortega transformou esses vídeos em um verdadeiro presente aos fãs de Michael: o documentário/filme This Is It - o mesmo nome da turnê.
Eu fiquei completamente embasbacado com a grandiosidade desses shows. Haveria uma super-produção, com pirotecnia, telões com animações e vídeos feitos especialmente para o show, robôs, entre outras coisas que deixam até os shows do Pink Floyd no chinelo - no quesito produção, pelo menos. Foi muito legal ver Michael Jackson como artista, e puramente como artista. Nada de escândalos, vida pessoal, nada disso. Ali nós vimos o profissional/artista/músico Michael Jackson. E posso dizer: o cara era extremamente competente no que fazia. Ouví-lo cantando trechos de Human Nature a capella provou que ele ainda tinha pleno domínio sobre sua voz. Aos 50 anos anos, ainda cantava e dançava de maneira fantástica.
Outro ponto forte é a banda que o acompanharia. Todos os músicos muito bons e bem entrosados. Destaque para a guitarrista Orianthi Panagaris, uma loira maravilhosa que toca muito. Fiquei maluco quando ela solou Beat It!
This Is It é um presente aos fãs, principalmente aos que nunca puderam assistir o Rei do Pop ao vivo. Deu pra sentir um gostinho do que seria a turnê This Is It: um dos maiores shows da história.